Fonte: Galeria de Imagens Pixabay

A síndrome de burnout, ou síndrome do esgotamento profissional, é
um d
istúrbio
psíquico descrito em 1974 por Freudenberger, um médico americano. O transtorno
está registrado no Grupo V da CID-10 (Classificação Estatística Internacional
de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde).

Varella (2011) afirma que sua principal característica é o estado
de tensão emocional e estresse crônicos provocado por condições de trabalho
físicas, emocionais e psicológicas desgastantes e, por isso, se manifesta
especialmente em pessoas cuja profissão exige envolvimento interpessoal direto
e intenso.

É sabido que no ambiente de trabalho, as pessoas enfrentam muitas
fontes de desgaste todos os dias. “Quando o estresse profissional é crônico,
algumas vezes provoca outro desajustamento mais grave, que é o esgotamento,
ou seja, um tipo de exaustão emocional.” (BERGAMINI e TASSINARI, 2008, p. 34).

O esgotamento acontece principalmente em trabalhadores que tiveram
exposição durante um longo período ao estresse de intensidade grave, porque o
corpo humano não consegue reconstruir naturalmente sua habilidade de lidar com
o estresse, ou seja, ele foi degradado. As consequências são pessoas física e
emocionalmente enfraquecidas na tentativa de combatê-lo.

Esse esgotamento citado pelos autores é chamado de burnout, ele
é um q
uadro mais
grave que surge pela busca do ajustamento pessoal, e é designado pela
psiquiatria como a manifestação do estresse em sua fase mais aguda e de esgotamento
e é ainda, atualmente, uma das crises do estresse ocupacional mais comum, e
infelizmente, capaz de levar os empregados a uma incapacidade definitiva.

 

O corte de benefícios pela empresa, a mudança de direção e a
exigência de horas extras para cobrir o grande número de demissões compõem o
terreno fértil para a crise de burnout. É interessante notar que nos
cenários de novas fusões e incorporações de empresas isso se agrava ainda mais
e como decorrência há substituição de empregados fixos ou de carreiras por
empregados terceirizados ou temporários, sem benefícios. (BERGAMINI E
TASSINARI, 2008, p. 35)

 

O burnout pode ser resultado, por exemplo, da
terceirização, assunto muito polêmico no atual momento no Brasil.

As empresas aparentam encantamento em razão dos baixos custos
fixos que a terceirização a proporciona. Financeiramente esse modo de
contratação de mão-de-obra é de fato altamente vantajoso, porém, em aspectos
humanos acontece totalmente o contrário tanto para os contratantes como para
contratados em questão da despersonalização.

Isso acontece porque a terceirização, em alguns casos, expõe o
trabalhador à falta de diversificação em tarefas de trabalho que causam
monotonia, falta de comunicação com outras pessoas e falta de desafios
intelectuais ou de responsabilidade individual, que são considerados pela
própria Organização Mundial de Saúde (OMS), fatores que podem lesar a sa
úde.

Bergamini e Tassinari (2008,
p. 35) observam ainda:

 

O fato de cada dia trabalhar em uma empresa diferente, de cada dia
ver trabalhando ao seu lado pessoas que não conhece, cujos nomes nem sequer
sabe, determina um ambiente anônimo e impessoal altamente desfavorável. Essas
condições são propícias para a formação do estresse. Do ponto de vista
psicológico, a terceirização deveria ser utilizada somente em último caso e de
forma passageira. Aqueles que já conviveram em ambientes terceirizados
dificilmente esquecem seus efeitos maléficos. […] O conflito nasce
naturalmente do desconhecimento daqueles com os quais se convive. A sobrecarga
causa o sacrifício da qualidade ou da quantidade de trabalho que, em princípio
cada um deveria desenvolver.

 

A Isma (Associação Internacional de Cuidados com o Estresse, em
tradução do inglês) aponta que 70% da população brasileira sofrem de estresse.
Desse total, 30% apresentam burnout, que pode levar à depressão e até ao
suicídio.

Para Anadergh Barbosa Branco, professora de medicina do trabalho
da U
nB
(Universidade de Brasília), a falta de um exame preciso que comprove distúrbios
psicológicos – como a depressão – faz com que os funcionários nesse estágio de
estresse não saibam lidar com o problema, assim como a maioria das empresas.

Outro problema grave que intensifica os prejuízos do estresse
ocupacional é o fato de o mesmo ser visto ainda como frescura pela sociedade,
sobretudo pelos patrões.

Estar triste ou preocupado por uma coisa pontual é normal, mas é
preciso atenção com funcionários que apresentem sofrimento constante, até mesmo
porque, “segundo uma pesquisa da Universidade de Bristol, na Grã-Bretanha,
mesmo os estressados leves acabam incapacitados ao longo do tempo”. (OLIVEIRA,
2011)

O depoimento de Andrea Mota, ex-diretora de O Boticário, que
largou uma carreira brilhante em busca de qualidade de vida comprova a
observação de Oliveira e nos permite entender como ocorre na prática um
episódio de síndrome de burnout:

 

Dezembro de 2013. Era o meu 5º ano como diretora-executiva de O
Boticário. Gerenciava quatro diretores, 700 funcionários, mil franqueados e uma
equipe indireta de 25 mil pessoas. Bom, vocês imaginam o quão estressante era
esse período de fim de ano, época de pressão máxima pra bater metas. Estava
exausta! Sentia meu corpo e minha mente no limite: insônia, tontura, mau humor,
tremores faciais… os sinais de estresse estavam ali, escancarados. Mas, ok,
nada de novo no front, afinal havia aprendido a lidar com todo tipo de pressão.
“Você sempre deu conta, só precisa de férias”, repetia pra mim mesma. Porém,
daquela vez foi diferente. Nem a viagem de férias me fez melhorar. Bem pelo
contrário. No dia 11 de janeiro de 2014, estava com o Natan, meu marido, e meus
filhos, Caio e Izadora, na Bahia – moro há 13 anos em Curitiba, mas sou baiana
e tenho casa lá –, e acordei com uma dor de cabeça infernal. Minha mente
parecia mais acelerada que o normal, não sei explicar ao certo. Também não
conseguia levantar da cama. Fiquei lá, tentando descansar, e o Natan levou as
crianças à praia. Não queria que elas me vissem daquele jeito. Mais tarde, quando
já estavam todos de volta, meus braços, do nada, paralisaram. Entrei em
desespero!

 

Andrea
ainda conta que sua vida era 100% trabalho e que não sabia ser d
iferente nem mesmo durante sua
gravidez de risco:

 

Exatos nove dias depois do surto, já estava em Curitiba, de
volta ao trabalho. Foi um dia horrível. Lembro-me de ter sentido medo das
minhas reações, já que pela primeira vez na vida não estava no controle. Tive
uma longa reunião com o Artur Grynbaum, presidente do Grupo Boticário e
com a diretoria pra explicar o ocorrido – fui o mais transparente possível e
pedi compreensão. Todos concordamos que eu reduziria o ritmo: na prática,
passei a ser mais seletiva com os compromissos e diminuí o número de viagens.
Além de continuar com os remédios, montei uma super equipe pra me ajudar a
reduzir o estresse: psicólogo, personal trainer, coach, homeopata,
massoterapeuta. Tinha ao meu lado o time mais incrível do mundo, mas não fazia
ideia de como, de fato, mudar meu ritmo. Veja bem, durante a minha gestão, a
empresa cresceu três vezes mais que o esperado e se tornou uma das marcas mais
admiradas do País. Só pra dar um exemplo: as metas traçadas pra 2018 foram
alcançadas em 2014. Ninguém consegue tamanho sucesso com uma dedicação mais ou
menos. É preciso comprometimento, paixão. Por isso, jornadas de trabalho de 14
horas por dia são inevitáveis, assim como um terceiro turno, viagens
internacionais, mil eventos e jantares com clientes. Ser bem-sucedida é incrível,
mas o preço que se paga é altíssimo.

 

Além disso,
por não ter tempo para sua família, Andrea relata que sentia m
uita culpa e que era de carne,
osso e emoções e por isso, precisava mudar sua vida. E foi o que ela fez:

 

Bom… Mesmo reduzindo o ritmo e tentando de tudo, o fato é que
eu não estava mais feliz no trabalho. Era hora de encarar a realidade: já havia
construído o meu legado, e aquela vida já não me bastava mais. Precisava me
reinventar, sabe? Adquirir novos conhecimentos, quem sabe começar uma outra
carreira… Com isso, parei, fiz as contas e comecei a me planejar. Em outubro
de 2014 (acho até que aguentei bastante!), comuniquei aos chefes a minha
decisão de me desligar da empresa. As reações foram as mais diversas, da
surpresa à raiva, mas segui decidida e segura da minha decisão. No dia 5 de
janeiro de 2015, dei meu adeus definitivo. Hoje, com 46 anos e orgulhosa da
minha coragem, finalmente aceitei que não sou uma máquina. Sou de carne, osso e
emoções e tenho apenas duas certezas na vida: não quero mais ser executiva e
quero ter tempo pra mim. Continuo com a minha psicóloga na tentativa de me
conhecer melhor e achar uma nova carreira. Até lá, estou fazendo cursos de
culinária, fotografia e ioga, e em breve começo o estágio em uma floricultura.
Adoro poder levar meus filhos ao cinema à tarde. É como dizia o poeta italiano
Torquato Tasso: “Perdido é todo tempo que com amor não se gasta”.

 

Para Bergamini e Tassinari (2008, p. 33), “é imprescindível
relacionar o e
stresse
organizacional como uma forma de adoecimento empresarial intimamente ligado ao adoecimento
individual”. E conclui: “É impossível separar o trabalhador da organização na qual
trabalha”.

Afinal, as doenças mentais se tornam a cada dia um fator mais
significativo de afastamento do trabalho, têm apresentado aumento em seus
cursos e durações, e crescendo ainda em quantidade. Isso representa, além dos
inúmeros danos para a saúde do trabalhador e sua família que serão
especificados adiante nesse trabalho, um custo social muito alto para o governo
e para toda a sociedade.

 

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS

 

BERGAMINI,
Cecília Whitaker; TASSINARARI, Rafael. Psicopatologia do c
omportamento
organizacional
:
Organizações desorganizadas, mas produtivas. 1. ed. Brasil: Cengage Learning,
2008.

 

MESTRE,
Natália. Conheça a história de Andrea Mota, ex-diretora de O Boticário, que largou
uma carreira brilhante em busca de qualidade de vida.
Ago. 2015. Disponível
em: <
http://revistaglamour.globo.com/Na-Real/noticia/2015/08/conheca-historia-de-andreamota-ex-diretora-de-o-boticario-que-largou-uma-carreira-brilhante-em-busca-de-qualidadede-vida.html>.

 

OLIVEIRA,
Camila de. Estresse no trabalho leva mais de 1 milhão de brasileiros a receber
auxílio doença.
Abr. 2011. Disponível em:
<http://noticias.r7.com/educacao/noticias/estresse-no-trabalho-leva-mais-de-1-milhao-debrasileiros-a-receberem-auxilio-doenca-20170419.html?question=0
>.

 

SEABRA, Giovanni de F. Pesquisa
cientifica:
o método em questão. Brasília: Editora da UnB, 2001.

 

VARELLA,
Drauzio. Síndrome de Burnout. Mar. 2011. Disponível em: <
http://drauziovarella.com.br/letras/b/sindrome-de-burnout/>.

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