Hoje, é assim que venho escrever minha coluna (o que adoro fazer): cansada, exausta, física e mentalmente. É claro que não é culpa da coluna, um dos melhores momentos da minha vida.
É que faço parte da sociedade do cansaço e do máximo desempenho (CHUL-HAN).
O tempo, que sempre correu rápido, corre ainda mais, na velocidade hiperativa da Era da Informação – são muitos dados, o tempo inteiro, por toda parte, é muita gente em todo lugar, muita concorrência, muitas tarefas, muita exigência. Não à toa, casos de burnout (excesso de/infelicidade no trabalho, às vezes irreversível), ansiedade, pânico, depressão, agressividade, ódio e outros males vêm aumentando.
Claro que tudo piora com a sombra da pandemida que não vai embora, o matreiro Covid e a fugidia variente ômicron.
Minha teoria é a de que nos tornamos entes parcialmente maquinais e potencialmente narcisistas, em uma sociedade tão tecnológica, a Era Digital, pós-capitalista e a Era da Imagem.
Daí, outra coisa que nos cansa: o cuidado com a imagem, nas telas principalmente, editadas, com filtros e recortes mil, mas em quase todos os momentos da nossa vida – trazemos o avatar, o personagem das redes sociais para fora delas, na maioria dos casos, por hábito ou necessidade de verossimilhança, por necessidade de pertencimento social. Nas telas e fora delas, o corpo e a fala, notadamente ao vivo, em lives, em acesso ubíquo – múltiplo e aprofundado – com o público é a nova forma de viver.
Quem não faz live não vive. Quem não aparece na tela não existe.
Falei do cansaço que nossa sociedade de maximização e eficiência provoca, imersos no digital, e no peso de nossa própria imagem como fator de cansaço nesse cenário de espetacularização do cotidiano e das pessoas, como há muitos anos o filósofo Guy Debord (n memoriam) escreveu – extremamente atual.
Quanto a mim, e a muitos, estamos cansados. Tudo é lento, o olho se mexe devagar, mais devagar do que deveria, quero dormir, descansar, não ter de fazer nada, não ter de postar tudo – e postar para mim é necessário, por causa do meu trabalho como escritora, jornalista, professora e palestrante. “Pare o mundo, eu quero dormir”… Pare o mundo, quero desligar um pouco meu smartphone. Pare o mundo, quero esquecer um pouco meus personagens nas telas – sutilmente esculpidos, ou nem tão sutilmente assim.
Você se sente cansado(a)? Por mais que se sinta, muitas vezes, alvo de atenções inesperadas ou frequentes, e que seja ou se sinta bem-sucedido(a)? Consegue aliar trabalho eficaz com presença na família? Como está sua saúde? Até quando sua cabeça vai aguentar?
Descansar, hoje, parece uma ofensa. Não. Descansar é um ato de resistência, em uma sociedade que não dorme, não compreende e não se satisfaz.
Elenir Alves é formada em Publicidade e Marketing. Editora-chefe da Revista Projeto AutoEstima e Assessora de Imprensa da Revista Conexão Literatura. Foi coeditora, juntamente de Ademir Pascale, do extinto fanzine TerrorZine – Minicontos de Terror. Foi coautora de diversos livros, entre eles “Draculea – o Livro Secreto dos Vampiros”, “Metamorfose – A Fúria dos Lobisomens” e “Zumbis – Quem disse que eles estão mortos?”, nas horas vagas adora escrever poemas e frases inspiradoras.
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