Vivemos tempos de extremismos, brigas políticas e ideológicas no Brasil (que sempre existiram em nossa conturbada história). Os brasileiros estão ansiosos, raivosos, tristes, em sua maioria. Confesso que tenho me sentido um tanto assim. Casualmente ou não, há alguns dias deparei com uma música que achei especial. Jamais a havia escutado na versão original, mas era, agora, entoada por duas crianças simples e talentosas, com a inocência própria das crianças – ou de boa parte delas. Quando refleti sobre nosso povo majoritariamente miserável que, em grande parte, vive de sub-empregos e Bolsa Família (esta, cortada drasticamente em 2023, como as verbas da Saúde, da Educação e de pesquisa); quando imagino o abandono do sertão, dos mendigos nas metrópoles, em famílias enormes comendo água com farinha, lembrei-me dessa canção, “gorjeada” pela duplinha João Lucas & Davi
Não, não é que eu exatamente seja uma fã – mas, respeito quem seja – de música sertaneja. Mas esta música, desconfio, pode fazer com que todos nós reflitamos sobre nosso Brasil. Como pode um país com tanto potencial, tanta cultura e criatividade, tanta terra produtiva, que chega a alimentar boa parte do mundo, ser tão pobre?
A seguir, apresento o clipe dos meninos, e, em seguida, a letra desta, a meu ver, obra-prima.
Aqui não falta sol
Aqui não falta chuva
A terra faz brotar qualquer semente
Se a mão de Deus
Protege e molha o nosso chão
Por que será que tá faltando pão?
Se a natureza nunca reclamou da gente
Do corte do machado, a foice, o fogo ardente
Se nessa terra tudo que se planta dá
Que é que há, meu país?
O que é que há?
Se nessa terra tudo que se planta dá
Que é que há, meu país?
O que é que há?
Tem alguém levando lucro
Tem alguém colhendo o fruto
Sem saber o que é plantar
Tá faltando consciência
Tá sobrando paciência
Tá faltando alguém gritar
Feito um trem desgovernado
Quem trabalha tá ferrado
Nas mãos de quem só engana
Feito mal que não tem cura
Estão levando à loucura
O país que a gente ama
Feito mal que não tem cura
Estão levando à loucura
O Brasil que a gente ama.
Sigo repetindo: o Brasil tem as maiores riquezas naturais e culturais do mundo, e nenhum país é tão bonito e tão diverso. Se a terra tudo dá, se sobrevivemos até aqui com tantas adversidades, se tivemos e temos tantos talentos e “riquezas”… O que é que há meu país, que é que há?
O Brasil não é um país pobre – é um país corrupto. E houve quem chamasse a terra – terra brasilis – em seu sentido literal de solo, no caso o agro, de fascista. Nossa terra é privilegiada, tudo dá.
Acredito que esta corrupção endêmica começará a acabar quando aprendermos a deixar os extremismos e fanatismos políticos e ideológicos. E mais: não pensarmos tanto em interesses próprios, escusos, mas no país. Não valorizarmos tanto ter razão sempre, humilhar o diferente.
O Brasil é um país riquíssimo, sempre foi. Mas será que, de certa forma, ainda somos índios “estranhos em sua própria terra (que tudo dá)”, explorados e vilipendiados por uma elite cada vez mais distante do povo, na prática, senão a conluios e sua ganância? O Brasil tem, hoje, a máquina estatal mais numerosa do mundo. A terra que tudo dá está começando a soçobrar, rachar, morrer… E o povo, a perder (ainda mais) a esperança.
Elenir Alves é formada em Publicidade e Marketing. Editora-chefe da Revista Projeto AutoEstima e Assessora de Imprensa da Revista Conexão Literatura. Foi coeditora, juntamente de Ademir Pascale, do extinto fanzine TerrorZine – Minicontos de Terror. Foi coautora de diversos livros, entre eles “Draculea – o Livro Secreto dos Vampiros”, “Metamorfose – A Fúria dos Lobisomens” e “Zumbis – Quem disse que eles estão mortos?”, nas horas vagas adora escrever poemas e frases inspiradoras.
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