Será que ficar melancólico no domingo à noite significa que o nosso trabalho não está a favor da nossa saúde mental?

Por Bruna Tamires Nascimento*

Diversos estudos mostram a importância de se encontrar a felicidade no trabalho. Uma pesquisa da Saïd Business School, escola de negócios da Universidade de Oxford, relata que os funcionários felizes são 12% mais produtivos e tendem a cometer menos erros do que os infelizes. Outro estudo, este da Universidade da Califórnia, aponta que uma pessoa feliz é três vezes mais criativa e vende 37% a mais do que os descontentes. São revelações animadoras, já que passamos boa parte do nosso tempo no trabalho. 

É importante que a tal felicidade no trabalho seja uma fonte de sentimentos positivos a favor da nossa saúde mental, mas será que ter preguiça de acordar para trabalhar, ficar melancólico no domingo à noite porque no dia seguinte começa mais uma semana de labuta ou ficar esgotado mentalmente no fim do expediente são sinais que indicam que não somos felizes no trabalho? É uma pergunta difícil, já que felicidade não é uma ciência exata e envolve muita coisa junta e misturada. 

Em linhas gerais, a felicidade é um sentimento que nos causa bem-estar, assim como a alegria, a esperança e a satisfação. Embora ela seja positiva e grandiosa, vale reconhecer que não necessariamente estará presente na mesma intensidade em todos os dias e momentos da nossa vida. Por ser um sentimento que depende de muitas variáveis, convém lançar mão de uma boa dose de autoconhecimento para dar leveza às suas idas e vindas. Porém, arrisco dizer que a felicidade se torna mais recorrente quando aprendemos a separar bem a vida pessoal e a profissional. 

Para avaliar se o seu trabalho contribui para a sua felicidade, recomendo primeiro avaliar se as atividades que você realiza estão conectadas com o seu propósito, aquilo que você acredita fazer sentido para a sua carreira e te mobiliza a seguir em frente. Se, por exemplo, você não curte lidar com números, mas aceita uma vaga na área financeira porque a remuneração é atrativa e te permite realizar sonhos na esfera pessoal, a médio prazo provavelmente irá sentir falta de ter desafios que inspirem dar o seu máximo desempenho. Em contrapartida, pode ser que você goste do que faz, mas discorde de alguns aspectos da cultura da empresa, esteja com dificuldade para se organizar ou não sinta que as suas entregas são relevantes para os resultados da organização. 

Há uma infinidade de fatores que podem influenciar o quanto somos felizes no trabalho. A mesma coisa acontece na vida pessoal. Vamos fazer de conta que você adora assistir séries e passar vários finais de semana seguidos maratonando dezenas de episódios. Concorda que, em algum momento, essa forma de lazer pode se tornar insuficiente para te deixar plenamente feliz? Na vida profissional, também temos esse anseio por novidades que quebrem a rotina e nos conduzam a novas experiências.  

Por outro lado, precisamos aprender a separar essas duas esferas da vida, por mais difícil que às vezes pareça ser. Assim como as preocupações do trabalho não podem tirar a sua paz nos momentos de descanso, é bom evitar descarregar nos colegas de equipe a raiva ou a frustração gerada por questões pessoais. Pegou trânsito ou tomou chuva? Deixe para lá, vida que segue, combinado? Caso contrário, você não conseguirá se dedicar 100% a nenhuma atividade ou terá uma performance inferior ao que gostaria, o que possivelmente vai influenciar o seu termômetro de felicidade e evidenciar que algo não está fluindo de uma maneira bacana.

Na minha opinião, quando o assunto é felicidade no trabalho, há pelo menos quatro pontos de atenção. O primeiro é ter ciência de que o que faz um colega se sentir feliz não necessariamente se aplica para você e vice-versa. O segundo é que ser feliz tem a ver com fazer um bom filtro para reclamações, críticas e feedbacks. Ouça-os atentamente, mas seja generoso com você e só leve em consideração aquilo que realmente for condizente com os seus valores pessoais e propósito.

Já o terceiro é acolher suas limitações e inquietudes. Em algum momento, pode ser que falte conhecimento para executar uma tarefa, esteja sobrecarregado de trabalho ou não tenha interesse em encarar um desafio que não tem nada a ver com o que quer para sua carreira. Acontece e está tudo bem. O importante é aprender a falar “não” para o que não nos inspira  e ter conversas sinceras com um líder sempre que algo te deixa chateado ou frustrado, ou seja, não traz felicidade.  

E, agora, o quarto e último alerta (que está mais para um conselho!). Cuide bem da sua inteligência emocional para evitar que a ansiedade ou a impulsividade guie suas atitudes. Sabe quando a gente lê um e-mail que desce torto e, no mesmo minuto, dá vontade de escrever uma resposta que talvez você venha a se arrepender depois? Pare tudo, respire fundo e vá fazer outra coisa. Deixe para responder mais tarde ou, se possível, amanhã. Se mesmo assim, ainda estiver incomodado, peça para alguém da sua confiança ler. Faço isso e confesso que, mais de uma vez, descobri que o meu entendimento estava distante do real objetivo da mensagem. Essa dica também vale para tomadas de decisão difíceis e para solucionar problemas. Na dúvida, retome o assunto depois. 

Agora, se mesmo assim, você não conseguir enxergar a felicidade no seu trabalho, pode ser que o propósito que te levou até essa empresa ou cargo tenha deixado de existir. A nossa vida profissional está em constante evolução, logo o que nos mobiliza e faz feliz acompanha esse movimento. O seu objetivo profissional de hoje, certamente não brilhará seus olhos daqui a alguns anos. Então, o jeito é estar sempre preparado para seguir em frente e promover as mudanças necessárias rumo ao seu propósito “renovado”. 

Para fechar, deixo uma frase que levo sempre comigo e faz parte do livro “Por que fazemos, o que fazemos”, do Mario Sergio Cortella: “Quem começa o dia de trabalho com um nível de tristeza, precisa reinventar as razões pelas quais faz aquilo que faz”. E, se quiser se aprofundar mais, recomendo ver o filme “O Senhor Estagiário”, com o ator Robert De Niro, que traz muitas reflexões sobre o que é de fato ser feliz no trabalho. 


* Bruna Tamires Nascimento é psicóloga e pedagoga formada pela FMU. Em 2019, entrou na Companhia de Estágios como estagiária e atualmente é gerente do Programa de Aprendizagem. Mais informações em https://www.linkedin.com/in/bruna-tamires-nascimento-9b2b68169/.

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