Sintomas iniciais de hepatites são comumente confundidos com dengue e gripe e o diagnóstico acaba vindo tardiamente. (Crédito: Pexels)

Hoje 28 de julho é o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais. E é importante alertar sobre os sintomas, facilmente confundidos com gripe, dengue e outras doenças. O atraso no diagnóstico tem levado pacientes a sofrer com sintomas, sem saber o que de fato os acometem.

A médica hepatologista do Centro de Cirurgia, Gastroenterologia e Hepatologia (Cighep), que fica no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba e que também integra a diretoria da Associação Paranaense de Hepatologia, Cláudia Ivantes, explica que enquanto alguns pacientes são assintomáticos ou possuem sintomas brandos, outros evoluem para casos graves. “E em quadros crônicos, o diagnóstico tardio pode evoluir para uma fibrose hepática”, explica.

As hepatites virais são infecções que causam inflamação do fígado. As mais comuns são as hepatites A, B e C. Além destas, existem as hepatites D e E, que ocorrem em situações específicas.

Hepatite A

Transmitida via fecal-oral, a hepatite A pode ser contraída através de água e alimentos contaminados. “Para pessoas infectadas é recomendável o uso de banheiros separados e utensílios próprios para evitar a disseminação”, explica a médica gastroenterologista Juliana Ayres de Alencar Arrais Guerra, gastroenterologista do (Cighep).

Os sintomas incluem febre, mal-estar, cansaço, náuseas, vômitos, diarreia e icterícia (pele e olhos amarelados). Embora seja raro, pode evoluir para um quadro grave, necessitando até de transplante hepático ou levando a óbito. A vacina contra hepatite A está disponível no SUS para crianças com menos de 5 anos, pacientes imunossuprimidos ou portadores de outras doenças hepáticas. Em Curitiba, por causa do surto, a prefeitura abriu a vacinação para trabalhadores do sistema de educação. No sistema privado, a vacina está disponível para todos.

Hepatite B

A hepatite B é principalmente transmitida por via sexual, contato com sangue contaminado e de mãe para filho durante a gestação e o parto. Nos casos agudos, os sintomas incluem mal-estar, náuseas, vômitos, inapetência e icterícia. A maioria dos casos agudos resolve-se sozinho dentro de seis meses, mas o vírus pode causar hepatite aguda fulminante. Em casos crônicos, os pacientes geralmente são assintomáticos e diagnosticados em exames de rotina. Hepatite B tem tratamento medicamentoso, porém, na sua forma crônica, as chances de cura são mínimas. Há somente vacina, disponível para todas as idades, oferecida gratuitamente pelo SUS.

Hepatite C

Transmitida principalmente por contato com sangue contaminado (transfusão de sangue, tatuagem, uso drogas injetáveis, alicate de cutícula, etc.). A maioria dos infectados cronifica e permanece assintomática, sendo diagnosticada em exames de rotina. A doença tem medicamentos que proporcionam alta taxa de cura. Não há vacina para Hepatite C.

Hepatite D

A hepatite D só ocorre em pacientes com hepatite B e não tem cura. As vias de transmissão são as mesmas e a maioria dos casos são assintomáticos. E quando apresentam sintomas, são inespecíficos, como mal estar, náusea, vômito, icterícia, etc. “A prevenção é feita pela vacinação contra a hepatite B,” enfatiza a Dra. Juliana.

Hepatite E

A hepatite E é uma causa frequente de hepatite viral no mundo, mas no Brasil, os casos são raros. Transmitida via fecal-oral, geralmente apresenta um quadro agudo e autolimitado, com sintomas semelhantes aos da hepatite A e permanece entre duas a seis semanas. Em gestantes, especialmente no segundo e terceiro trimestres, pode evoluir para um quadro grave e fulminante. Pacientes imunossuprimidos (transplantados, em quimioterapia, portador de HIV, etc.) podem desenvolver hepatite E crônica. Não existe vacina contra hepatite E. A prevenção pode ser feita por meio de melhora do saneamento básico e medidas de higiene.

A prevenção das hepatites inclui a vacinação (para hepatites A e B), uso de preservativos, não compartilhar objetos pessoais que possam ter contato com sangue e garantir boas práticas de higiene. Entre elas, a de lavar as mãos muito bem depois de ir ao banheiro, cozinhar bem os alimentos e higienizar bem os alimentos crus.

Cansaço extremo e diagnóstico errado

O consultor imobiliário Eric Schneider Zanfelice, 44 anos, e a orientadora educacional Rosane Vargas, 43 anos, estão se curando de hepatite A. Ambos relatam a demora no diagnóstico, que só conseguiram após insistir e buscar outros médicos.


Eric conta que começou a sentir-se mal após uma viagem no feriado de Corpus Christi, em maio. Pensou que estava com dengue, pois apresentava mal-estar, indisposição e calafrios, mesmo sem ter febre. Mas os exames de dengue e influenza deram negativo.

Logo surgiu amarelamento do corpo, urina escura (amarelo forte, quase laranja), enjoo com vários cheiros (comida e produtos de limpeza) e cansaço extremo. Após quase três semanas e quatro médicos diferentes, ele foi finalmente diagnosticado com hepatite A no Cighep e ficou internado por três dias.

“Os sintomas se manifestam entre 15 a 50 dias após infecção pelo vírus. Foi antes da minha viagem, não sei como peguei hepatite”, relata Eric, que só depois de 40 dias muito debilitado voltou às atividades do dia a dia, ainda com restrições.

Diferente de Eric, Rosane teve como primeiro sintoma a febre. Por duas vezes tomou paracetamol, ficou melhor e voltou à vida normal. Até que a urina dela começou a ficar escura. Como não costuma tomar água, ignorou. Mas aí veio muita dor abdominal, nas costas e indisposição. Seu marido pensou que era dengue. E numa primeira consulta, o diagnóstico foi infecção urinária.

Rosane não acreditou no diagnóstico e procurou outro hospital. Descobriu a hepatite A e ficou uma semana internada com muita dor abdominal, ânsia e o corpo amarelado. Os sintomas da orientadora educacional começaram dia 6 de maio e ela não sabe onde pegou a doença, já que em sua casa e na escola onde trabalha, ninguém teve hepatite A.

Hepatite no Brasil

Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil teve pouco mais de 28.500 novos diagnósticos de hepatites virais em 2023. E entre 2000 a 2022, foram 750.651 novos casos. Desse total, o maior percentual é de hepatite C (39,8%), seguido de hepatite B (36,9%) e hepatite A (22,5%). Porém estima-se que mais de 1,5 milhão de brasileiros convivam com hepatites sem saber, pela falta de diagnóstico correto. Em relação aos óbitos, foram 85.486 entre 2000 e 2021.

Novos casos de hepatite no Brasil em 2023:

Curitiba enfrenta surto de Hepatite A. Conforme a prefeitura, nos seis primeiros meses de 2024, a capital registrou 366 casos e cinco óbitos. A cidade não tinha mortes por hepatite A desde 2012 e nem tantos casos. Em 2023, foram cinco casos de janeiro a junho e, em 2022, quatro registros no ano todo. E antes, a doença acometia crianças com sintomas leves. Agora, os casos estão vindo em adultos, com quadros agravados: 60% dos infectados foram internados e 3,2% foram para a UTI.

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