Estudos mostram o quanto a saúde física e o bem-estar estão diretamente relacionados com os laços sociais e a felicidade. Ao mesmo tempo, no Brasil pesquisas já apontam para a necessidade de um olhar mais apurado para saúde mental, relação com o corpo e laços familiares. Será que o currículo do futuro tem espaço para essas novas “skills”?
Considerada uma das mais longas pesquisas científicas da história, o “Estudo sobre o Desenvolvimento Adulto”, conduzido por 85 anos pela Universidade de Harvard, concluiu que bons relacionamentos são a chave para uma vida mais feliz e saudável. Em seu TED com mais de 46 milhões de visualizações, Robert Waldinger, psiquiatra e um dos diretores do estudo, explica que conexões sociais com a família, amigos e comunidade são importantes, pois “fortalecem não só o bem-estar, mas a saúde física”. Com a investigação, o que se sabe é que bons relacionamentos protegem não apenas o corpo, mas também o cérebro.
É por resultados como esses que diversas pesquisas têm se empenhado em desvendar os caminhos para alcançar a felicidade e o papel da espiritualidade nesse processo. No entanto, compreender e medir a felicidade requer uma abordagem metodológica e epistemológica cuidadosa.
A felicidade no centro
Desde 1999, a Organização Mundial da Saúde (OMS) ampliou sua definição de qualidade de vida, passando a considerá-la como uma dimensão multidimensional que engloba o bem-estar físico, psicológico, social e espiritual. A professora Diana Chao Decock, do curso 4D de bacharelado em Gestão da Felicidade e Projeto de Vida da PUCPR, destaca a espiritualidade como uma ferramenta essencial nessa jornada, como uma “experiência íntima e profunda que confere significado e propósito à existência, levando em direção à plenitude e ao bem viver”.
Para a professora, “os ritos, as filosofias e os mitos que emanam da espiritualidade são instrumentos que não detêm valor intrínseco, sua importância reside na capacidade de catalisar a transformação pessoal e promover a conexão consigo mesmo. A espiritualidade nos convida a transcender o efêmero e a encontrar a autenticidade e a plenitude”.
Diana diz que raramente somos incentivados a explorar nossa própria interioridade, compreender nossos pensamentos, emoções, desejos e valores. “A espiritualidade pode ser vista como o encontro consigo mesmo, uma experiência que se torna um guia para nossas ações no mundo exterior. Ela é o caminho que nos conduz ao autoconhecimento, permitindo que nossas ações e relações com o mundo estejam alinhadas com nossa interioridade. É a jornada espiritual que nos leva a uma compreensão mais profunda de nós mesmos e do nosso lugar no universo, enriquecendo assim nossa experiência de vida”, ressalta.
E para aqueles que acham que espiritualidade se restringe às práticas religiosas, Diana explica que ela pode se manifestar em diversos momentos e situações da vida. “Às vezes, ao caminhar em contato com a natureza, em um mergulho no mar, em uma conversa com alguém ou durante o trabalho, podemos nos sentir plenos e experimentar nossa própria jornada espiritual. A espiritualidade é uma experiência pessoal e única, que vai além dos ritos religiosos ou institucionalizados. Ela está em nossa capacidade de experienciar a conexão interior e a compreensão de nós mesmos, independentemente do contexto em que isso ocorre”, destaca a professora.
Para Jelson Oliveira, coordenador do curso 4D de bacharelado em Gestão da Felicidade e Projeto de Vida da PUCPR, outro aspecto importante para compreensão da felicidade tem a ver com a ética. Isso porque a ética busca justamente construir as condições para que possamos habitar o mundo de forma pacífica e feliz, evitando tudo o que nos causa dor e sofrimento. Ele complementa: “Todos nós temos a mesma sensação: a felicidade é um estado de satisfação total, de realização plena do que somos. No fundo é isso: todos estamos em busca de nós mesmos e chamamos isso de felicidade. Ou seja, a felicidade não é um estado fora de nós, longe no tempo ou no espaço. A felicidade reside na capacidade que temos de realizar quem nós somos e, para isso, precisamos fazer um esforço de desapegar de tudo o que não é central, de tudo o que é distração e que nos atrapalha de ser feliz”.
Uma busca sem fim
Em março de 2023, o “World Happiness Report” divulgou os resultados de seu estudo que mapeia níveis globais de felicidade em 150 países no mundo todo. E revelou que o Brasil caiu da 38ª para a 49ª posição no ranking. A partir desses dados, outro instituto de pesquisa, o Qualibest, foi atrás do que torna o brasileiro mais ou menos feliz.
Entre as pessoas que se consideram felizes, predominam fatores internos em relação ao seu estado de bem-estar. Elas afirmam experimentar um sentimento positivo consigo mesmas (76%), encaram a vida de maneira descomplicada e leve (67%), mantêm uma perspectiva otimista (67%), possuem uma autoestima elevada (66%) e exibem um bom humor constante (65%).
Por outro lado, aqueles que se consideram infelizes mencionam fatores externos, como finanças, saúde e trabalho, como influências significativas para seu mal-estar, evidenciando assim a desigualdade social como uma questão subjacente. Essas pessoas lidam com instabilidade financeira (67%), enfrentam problemas de saúde física ou mental (50%), têm dificuldade em desfrutar de pequenos prazeres (46%), experimentam sentimentos de insegurança (36%) e suas carreiras não correspondem às suas aspirações (34%).
A sensação de felicidade é mais impactada pela família (94%) e pela saúde mental (90%) para as pessoas que se consideram felizes. Por outro lado, aqueles que se declaram infelizes atribuem maior efeito na melhora do bem-estar à relação com o corpo (74%) e à situação financeira (69%). Essa observação sugere um direcionamento estratégico para as marcas que têm a felicidade como foco. Três dos quatro aspectos mencionados podem ser áreas de atuação para essas empresas: saúde mental, relação com o corpo e laços familiares.
Felicidade e projeto de vida no currículo
Ao compreender todos esses elementos da vida pós-moderna, e a partir de estudos de mercado e de um processo criativo que contou com a participação de profissionais de diferentes segmentos da saúde, professores universitários e estudantes de ensino médio, a PUCPR lançou um curso novo: a Graduação 4D em Tecnologia em Gestão da Felicidade e Projeto de Vida. Em síntese, um curso superior que forma agentes de promoção de felicidade na vida profissional e pessoal.
O mercado de trabalho para profissionais especializados nessas temáticas está em crescimento, principalmente devido ao aumento do interesse das organizações em promover o bem-estar e a satisfação entre pessoas, times e comunidades. Por isso, a graduação oferece estratégias que pretendem ajudar não só a alcançar a felicidade pessoal, mas também a contribuir de maneira positiva com a sociedade, ao preparar profissionais com comunicação eficaz, sensibilidade, criatividade, organização e facilidade de agregar, aconselhar e influenciar pessoas.
Referências:
Robert Waldinger: What makes a good life? Lessons from the longest study on happiness | TED Talk
Elenir Alves é formada em Publicidade e Marketing. Editora-chefe da Revista Projeto AutoEstima e Assessora de Imprensa da Revista Conexão Literatura. Foi coeditora, juntamente de Ademir Pascale, do extinto fanzine TerrorZine – Minicontos de Terror. Foi coautora de diversos livros, entre eles “Draculea – o Livro Secreto dos Vampiros”, “Metamorfose – A Fúria dos Lobisomens” e “Zumbis – Quem disse que eles estão mortos?”, nas horas vagas adora escrever poemas e frases inspiradoras.
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