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Entrevista
Revista Projeto AutoEstima: Você está produzindo o livro Vitrináveis, Descartáveis e Bloqueáveis – (Um Dark Romance Gay entre xícaras e segredos), poderia comentar?
Henrique Medeiros Sérgio:
“Vitrináveis, Descartáveis e Bloqueáveis” é um Dark Romance Gay que traz importantes personagens que cruzaram as vidas dos protagonistas, oferecendo uma narrativa intrigante e reflexiva. O livro explora temas como a percepção de autoimagem e autoestima de usuários de aplicativos de encontros voltados para sexo casual, além das respostas emocionais ao bloqueio de perfis em redes sociais.
A história gira em torno de um casal de homens que, durante um passeio romântico pela serra litorânea do Rio de Janeiro, avistam uma misteriosa cafeteria escondida entre as árvores, com uma vista deslumbrante para o mar. O que parecia ser um refúgio acolhedor logo se revela uma armadilha que os força a confrontar segredos do passado.
Dentro do ambiente rústico, porém tecnologicamente avançado, outros homens surgem — figuras que fizeram parte de encontros casuais e, como tantas conexões virtuais, foram descartados e bloqueados. No entanto, é a chegada de um estranho intimidador que transforma o clima em puro suspense. Esse homem, no passado, havia sido abusado por um dos dois protagonistas.
Presos na cabana, o casal é obrigado a encarar não apenas o estranho, mas também as marcas profundas de suas histórias. Segredos perturbadores vêm à tona, incluindo um antigo abuso que clama por justiça. A tensão emocional se intensifica quando estranho intimidador relembra como, mesmo após ter revelado o abuso à própria mãe, encontrou apenas desconfiança. Em vez de apoio, ela passou a vê-lo como cúmplice do agressor, e não como vítima, aprofundando suas feridas emocionais.
Agora, na cafeteria misteriosa, o destino deste homem abusador, de seu companheiro e dos outros que cruzaram seus caminhos, será decidido em um confronto carregado de emoção, vingança e revelações.
O resultado é uma obra rica em nuances, que transcende a ficção ao se tornar um importante instrumento para leituras críticas e rodas de debate. Será uma jornada de suspense psicológico, paixão e busca por justiça em “Vitrináveis, Descartáveis e Bloqueáveis”
Revista Projeto AutoEstima: Para a composição dos personagens, você utilizou alguma pesquisa ou trata-se apenas de um roteiro de fantasia?
Henrique Medeiros Sérgio: Para compor os personagens desta obra, utilizei uma pesquisa realizada para os livros “Sexo, Chuva, Chocolates e Outras Coisinhas – 2025” e “Aquiescência – Consentir ou Não Consentir? 2024”. A pesquisa foi conduzida com 300 usuários de aplicativos de encontros voltados para sexo casual, abrangendo o público gay, bissexual, trans e queer.
Foram investigados temas como os impactos na autoestima e na autoimagem, o fenômeno do chemsex — o uso de substâncias psicoativas durante o sexo para aumentar o prazer ou a desinibição — e o uso desses aplicativos com fins comerciais (popularmente conhecidos como “programas”). Além disso, outros 25 aspectos relacionados às dinâmicas dessas interações foram analisados.
O resultado dessa pesquisa, aliado à interação com os entrevistados, facilitou a construção de uma história que, embora seja baseada em ficção e fantasia, está profundamente conectada à realidade das relações homoafetivas e das experiências vividas nos aplicativos de encontros casuais.
Revista Projeto AutoEstima: Houve algum número que chamou sua atenção na pesquisa com os 300 usuários do aplicativo?
Henrique Medeiros Sérgio: Ao todo, a pesquisa explorou 30 aspectos relacionados às dinâmicas dessas interações. Um dos mais simples foi o grau de interação com as imagens de três perfis criados exclusivamente para a realização do estudo. Vou destacar três pontos para explicar melhor aos leitores:
1 – Objetivo: Saber o quanto as pessoas interagiriam com os três perfis criados.
Nenhum dos perfis apresentava fotos de rosto ou corpo completo, apenas fragmentos do corpo ou uma imagem simbólica (uma flor). A equipe da pesquisa não iniciou qualquer tipo de contato; interagia apenas em resposta às mensagens dos usuários. Os perfis criados foram:
- Ativo: imagem de uma sunga branca.
- Passivo: foto das costas, da cintura para baixo.
- Versátil: imagem de uma flor.
Dados: Após 90 minutos de conexão inicial:
- 20% dos usuários bloquearam o perfil do Ativo.
- 85% bloquearam o perfil do Passivo, mostrando uma reação marcadamente negativa.
- O perfil Versátil (imagem da flor) teve o menor índice de bloqueios, com apenas 5%.
Análise: A pesquisa revelou diferenças significativas na forma como a apresentação visual dos perfis influencia a aceitação ou rejeição. O perfil Versátil teve o menor índice de bloqueios, o que sugere:
- Preferência por perfis que sugerem menos exposição física direta.
- Curiosidade para descobrir quem está por trás de um perfil mais neutro.
- Maior possibilidade de interação sem rótulos.
2 – Objetivo: Analisar o impacto emocional do bloqueio.
Dados:
- 86% dos participantes afirmaram se sentir incomodados com os bloqueios, sugerindo uma conexão importante entre o uso do aplicativo e a autoestima.
- 11% não se incomodavam, pois utilizavam o aplicativo “de zoeira”, sem investimento emocional.
- 3% nunca refletiram sobre o impacto dos bloqueios.
Análise: O desconforto com os bloqueios indica como a interação nesses aplicativos pode afetar a saúde mental, especialmente para aqueles que buscam validação ou aceitação. A rejeição digital parece exercer um impacto emocional significativo para a maioria dos usuários.
3 – Objetivo: Avaliar a autoimagem em relação aos outros usuários.
Dados:
- 75% dos participantes se consideravam menos atraentes do que outros usuários, sugerindo uma queda na autoestima.
- 14% se viam como mais atraentes, indicando um nível mais alto de confiança ou uma autoimagem positiva.
- 7% acreditavam ter atratividade semelhante à dos outros usuários.
- 4% não souberam avaliar.
Análise: Esses dados destacam uma correlação importante entre o uso de aplicativos e a percepção de atratividade pessoal. A maioria relatou uma sensação de inadequação, evidenciando como essas plataformas podem amplificar inseguranças e impactar negativamente a autoestima.
Os resultados da pesquisa trazem achados valiosos para discutir as dinâmicas psicológicas em aplicativos de encontros e seus efeitos na saúde mental. Temas como autoimagem, validação pessoal e resposta a rejeições online são fundamentais para entender como essas interações moldam o bem-estaremocional dos usuários.
Revista Projeto AutoEstima: O que esse projeto contribui para saúde mental de quem lê?
Henrique Medeiros Sérgio: Essa obra transcende a ficção ao abordar temas profundos e contemporâneos relacionados à saúde mental e às dinâmicas das relações homoafetivas. O livro explora as complexidades das interações em aplicativos de encontros voltados para sexo casual, destacando questões como autoestima, autoimagem e o impacto emocional do bloqueio de perfis. Ao trazer esses elementos para os personagens e incorporar os frios números dos resultados das pesquisas, busco oferecer uma narrativa que reflita a realidade de muitos indivíduos, proporcionando uma compreensão mais profunda das experiências vividas por essas pessoas.
Destaco as seguintes contribuições para a Saúde Mental dos Leitores:
- Reflexão sobre Autoestima e Autoimagem: A obra incentiva os leitores a refletirem sobre como as interações virtuais podem afetar sua percepção pessoal e autoestima, promovendo uma maior conscientização sobre a importância da saúde mental.
- Compreensão das Dinâmicas de Rejeição e Aceitação: Ao abordar o impacto emocional do bloqueio e da rejeição em plataformas digitais, o livro oferece insights sobre como lidar com essas situações, contribuindo para o fortalecimento emocional dos leitores.
- Discussão sobre o Fenômeno do Chemsex: Ao tratar do uso de substâncias psicoativas durante o sexo, conhecido como chemsex, a obra abre espaço para debates sobre os riscos e as motivações por trás dessa prática, promovendo uma abordagem mais consciente e informada.
- Validação de Experiências Homoafetivas: Ao retratar personagens e situações que refletem a realidade de muitos indivíduos LGBTQIAPN+, o livro oferece representatividade e validação, elementos essenciais para o bem-estar psicológico.
O livro não é apenas uma narrativa envolvente, mas também uma ferramenta que pode auxiliar os leitores a compreenderem melhor as complexidades das relações modernas e a importância de cuidar da saúde mental em um mundo cada vez mais digitalizado.
Palestra “Vitrináveis”, “descartáveis” e “bloqueáveis”
Festa Nacional do Livro Erótico – Hot in Rio Edição 2 -Letras Virtuais
Fotografia: @aficcionadosproducoes
Revista Projeto AutoEstima: Por que usar as definições de: “vitrináveis”, “descartáveis” e “bloqueáveis”?
Henrique Medeiros Sérgio: Tenho utilizado essas definições em meus livros, palestras e rodas de conversa. Neles, exploro mais a fundo esses termos. Contudo, trago um resumo aqui para que os leitores compreendam melhor:
Essas definições de “vitrináveis”, “descartáveis” e “bloqueáveis” no título e no contexto da obra têm uma carga simbólica, refletindo como muitos indivíduos, especialmente em ambientes virtuais e em aplicativos de encontros, são tratados de maneira superficial e utilitária. Cada um desses termos pode ser interpretado da seguinte forma:
- Vitrináveis: Refere-se à ideia de pessoas sendo tratadas como objetos em exibição, como se estivessem em uma vitrine para serem admiradas, mas sem um vínculo real ou substancial. No contexto dos aplicativos de encontros, isso pode simbolizar a superficialidade com que as pessoas são avaliadas, baseadas apenas em aparência ou características rapidamente visíveis.
- Descartáveis: Este termo se refere à maneira como muitas vezes as pessoas são descartadas depois de uma interação, seja após um encontro casual, seja após um simples deslizar em um aplicativo. Trata-se de uma crítica à cultura de descartar pessoas rapidamente, sem considerar suas emoções ou seus valores como indivíduos. Ele também remete ao comportamento frio e impessoal que pode surgir nesses tipos de relacionamentos, em que a conexão emocional é minimizada ou ignorada.
- Bloqueáveis: Refere-se à prática comum de bloquear alguém em redes sociais ou aplicativos de encontros, muitas vezes sem explicações, quando algo não agrada ou quando as pessoas não atendem às expectativas do outro. Este termo destaca a desconexão e o fechamento rápido que ocorrem nas interações digitais, onde as relações podem ser facilmente interrompidas sem um processo de comunicação ou resolução.
Esses três termos juntos ilustram a fragilidade e superficialidade das relações que muitas vezes se estabelecem nesse tipo de ambiente. Eles refletem um cenário em que as pessoas são tratadas de maneira utilitária, com pouca consideração pelos sentimentos e pela complexidade emocional de cada indivíduo. Ao usar esses conceitos, a obra chama atenção para as dinâmicas prejudiciais que podem surgir em interações virtuais, especialmente no contexto de sexo casual.
Os personagens trazem toda essa bagagem nesta obra.
Revista Projeto AutoEstima: Como está sua agenda para início de 2025?
Henrique Medeiros Sérgio: O livro “Vitrináveis, Descartáveis e Bloqueáveis – Um Dark Romance Gay entre Xícaras e Segredos” está programado para lançamento na Amazon em fevereiro de 2025, após a conclusão das avaliações por leitores e resenhistas. Além disso, o lançamento físico de “Aquiescência – Consentir ou Não Consentir?” está agendado para 25 de janeiro de 2025, em Botafogo, Rio de Janeiro. Este evento marca a estreia oficial da obra no Brasil, após seu lançamento inicial em dezembro de 2024 em Portugual.
Feliz 2025!
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Elenir Alves é formada em Publicidade e Marketing. Editora-chefe da Revista Projeto AutoEstima e Assessora de Imprensa da Revista Conexão Literatura. Foi coeditora, juntamente de Ademir Pascale, do extinto fanzine TerrorZine – Minicontos de Terror. Foi coautora de diversos livros, entre eles “Draculea – o Livro Secreto dos Vampiros”, “Metamorfose – A Fúria dos Lobisomens” e “Zumbis – Quem disse que eles estão mortos?”, nas horas vagas adora escrever poemas e frases inspiradoras.
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