Sempre gostei de flores. No tecido, no papel, nos móveis, nas roupas, nos enfeites, nos sapatos, nos quadros, nos jardins, nos vasos, nos jarros, nos campos, na natureza. Sempre gostei muito!
Ao olhá-las, assento-me em estado de graça. Calmaria na alma e doçura no olhar. Elas me ensinam que há tempo para tudo, demonstrando que sua beleza se assemelha à nossa: transforma-se com o tempo. Cambia-se com o clima. Altera-se com os cuidados ou descuidados. Modifica-se com o tempo. Sensível, segue o ritmo das estações.
Percebo que há aquelas que cintilam esplendor na Primavera. Outras desenvolvem-se com vigor no outono. Algumas desabrocham com visibilidade ímpar no inverno. E há ainda certas flores que deslumbrantes apresentam-se no verão. Sempre belas, únicas e encantadoras. Silenciosas vibram energia que reverberam o fundo da alma, alcançando emoções jamais sentidas.
A força que transmitem consagra a máxima de que a delicadeza é capaz de arrefecer ânimos e encorajar desanimados.
Nota especial aos botões das flores… guardam a esperança de nova vida. Eles, sim, condensam a importância do início, da fase embrionária da existência, despertando em nós a curiosidade, a novidade e a expectativa de vê-los desabrochar e decorar ambientes, cenários, campos e jardins.
Quando surgem, ressignificam a plantinha que os acolhe, distribuindo esperança e confiança na renovação.
Não sei se o encanto por elas me deu a feliz condição de recebê-las em visões e sonhos, ao longo da vida, desde tenra idade, ou se por recebê-las nessas oníricas aprendi a reverenciá-las.
Ao visitar minha história, rememoro que ao longo de minha vida recebi flores em sonhos e visões. Rosas, cravos, lavandas, papoulas, tulipas, lírios, azáleas, variados matizes, cores, texturas, formatos e tamanhos. Por algum motivo, que ainda hoje não sei, recebi margaridas, muitas margaridas, por diversas vezes e em vários momentos.
Recebidas por ternas mãos, por vastos campos, por jarros oferecidos. Flores conhecidas e desconhecidas. Recebidas com olhos fechados e com olhos abertos. Luminosas entregas, pinturas perfeitas, acompanhadas de sons que só a alma reconhece.
Sinto que os meus laços com as flores se estreitaram profundamente, reconhecendo o reino vegetal como um dos reinos que cumpre com o belo papel de decorar a vida e exaltar a grandeza da perfeição do Cosmos.
Grata sou pela bondade de seres visíveis e invisíveis me presentearem com flores. Em movimento ou estáticas, na sombra ou na luz, elas sempre se apresentam belas, com o dom de harmonizar ambientes internos e externos, aliviando dores, proclamando amores e convidando à contemplação da arquitetura divina.
Tão reais as flores sutis que são depositadas em meu campo de visão, que não tarda o meu movimento para apanhá-las. Recolhê-las, afagá-las e apreciá-las. Certamente essas vivências alteram-me o humor, acalmam-me o ser e elevam-me a projeções em que o passado, o presente e o futuro se comunicam, de forma ampla e amorosa.
O poder das flores revela o quão oculto ainda está o significado de tudo o que há nos reinos da Criação. Aprofundar-nos na leitura da vida nos permite reconhecer que temos muitos aliados para nos equilibrarmos e bem viver. Visões e sonhos. Flores e flores.

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Biografia: Ana Beatriz Carvalho: Escritora brasiliense, Normalista, Professora. Educadora com especialização em Direitos Humanos e mestrado em Políticas Públicas. Sua produção literária reúne contos, microcontos, cartas, crônicas, haicais, poemas e prosas poéticas. Vários de seus trabalhos foram selecionados para Antologias e Coletâneas. É membro das seguintes academias literárias: ALMUB/Brasília e AINTE/Fortaleza. Participou da 26ª Bienal Internacional do Livro de SP e da Bienal do Rio 2023 como autora. Autora dos livros Contos de uma Mulher Feliz: viver para crer que tudo é bom, belo e necessário e Viva a Vida!

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