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Por Dra. Cristiane Adami


Ruídos, em geral, são sons que nos causam incômodo, sobretudo quando são emitidos repetidamente. O nhec-nhec do colchão de molas, o tic-tac do relógio, o crec-crec da mastigação, o vrum-vrum do ventilador e o plof-plof da goteira são alguns exemplos clássicos de “barulhinhos chatos”, digamos assim, que ninguém gosta, só que estão muito presentes no nosso cotidiano.

Em tese, dá para conviver com eles sem grandes problemas. É assim com a maioria das pessoas, certo? Mas não com todas! Há casos em que esse desconforto realmente alcança um grau de intensidade tão elevado a ponto de desafiar a compreensão de quem nunca ouviu falar da chamada misofonia – também conhecida por Síndrome de Sensibilidade Seletiva do Som (SSSS).

Ruídos que, geralmente, apenas nos incomodam, em certas pessoas, podem desencadear reações de profunda irritabilidade, fúria e até mesmo pânico. E quem está por perto, claro, dificilmente entende o porquê disso. Por ser algo raro na população, as pessoas costumam enxergar as reações dos pacientes como exageradas, descabidas.

O que muitos não sabem (até mesmo quem tem o problema), é que essa perturbação vai além da questão audiológica. Isto é, transcende o campo dos distúrbios de comunicação do sistema auditivo, estudados pela Otorrinolaringologia e pela Fonoaudiologia. Podemos afirmar, aliás, que a misofonia é uma doença mais psiquiátrica ou neurológica do que propriamente audiológica.

Isso porque o indivíduo com essa condição tem um sistema auditivo normal. Testes, como a audiometria, não apresentam nenhuma alteração, de modo que o diagnóstico é clínico, baseado na queixa da pessoa. Indivíduos diagnosticados com misofonia, geralmente, apresentam outras condições associadas, como ansiedade, TOC e autismo.

Outro aspecto que merece atenção é que a misofonia não está necessariamente associada à exposição a sons de alta intensidade – como muitos imaginam. Ela, na verdade, é mais ligada à repetição. Ou seja, ao vrum-vrum, nhec-nhec e tic-tac, que mencionamos anteriormente. E não propriamente ao volume dos sons.

Embora atinja um contingente pequeno da população, qualquer pessoa pode desenvolver intolerância a sons em um momento da vida, sobretudo se tiver um diagnóstico psiquiátrico ou neurológico associado.

A recomendação a quem tem o problema é ficar em ambientes mais silenciosos, onde existam menos ruídos que o irritem. A depender do diagnóstico, também pode ser necessário uma abordagem multidisciplinar, por meio de um trabalho conjunto que envolve otorrinolaringologista, psiquiatra e psicólogo. Os tratamentos, geralmente, envolvem terapia cognitivo comportamental, acompanhamento psiquiátrico e musicoterapia.

Dra. Cristiane Adami é médica otorrinolaringologista do Hospital Paulista, especializada em patologias e cirurgias nasais

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